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Professor Reflexivo ou Professor Intelectual Crítico? Saiba de forma simples o modelo e concepção da sua prática docente

Por Márcio André Emídio 23 mar 2017 - 10 min de leitura

Você sabe diferenciar o professor reflexivo do professor intelectual crítico?

Diferenca entre professor intelectual e critico

 

Recentemente, vários estudiosos da formação de professores vêm trabalhando sobre questões relativas a um saber docente específico. Entre eles estão Schön, Nóvoa, Girox, e Contreras, com obras muito divulgadas que procuram apresentar o professor como um “profissional” crítico, ativo, reflexivo, intelectual, questionador e também, possivelmente, dotado de um “saber” que lhe é próprio como grupo.

Pratica Docente

As perspectivas sobre a docência, revelam os aspectos da socialização secundária vivida pelo professor. E nesse contexto de debate, tem havido grande preocupação com as concepções existentes em relação ao profissional de educação. Contreras3, por exemplo, pauta sua análise sobre o tema diferenciando três delas: a do docente como especialista técnico, como profissional reflexivo e como intelectual crítico. Cada uma pressupõe formas de entender o trabalho de ensinar. Para melhor compreensão, apresenta-se o Quadro, baseado em Barbosa2, com as principais características dos modelos citados, com ênfase nos princípios, meios e finalidades, ressaltando-se as diferenças de cada modelo.

Modelos e Concepções de Profissionais da Educação

 

Modelos e concepcoes

 

Fonte: O Autor, 2014.

No modelo Especialista Técnico, a prática docente baseia-se na solução de problemas através da aplicação de um conhecimento teórico e técnico previamente disponível, antecedente à pesquisa científica, supondo o uso desse saber científico e técnico aos problemas enfrentados pelo professor para conseguir alcançar os resultados.

A relação que se estabelece entre a prática e o conhecimento é hierárquica e interdependente, posto que as habilidades práticas são necessárias para a realização de técnicas, que derivam da ciência aplicada, que se fundamenta na ciência básica. A atuação necessita da elaboração prévia de conhecimentos que se produzem em outro contexto institucional. Essa separação entre a elaboração do conhecimento e a sua aplicação é igualmente hierárquica no seu sentido simbólico e social, já que representa distinto reconhecimento acadêmico e social entre as pessoas que produzem o conhecimento e as que o aplicam. O problema maior com esse tipo de conhecimento empírico-analítico, próprio das ciências físico-naturais, cujo interesse constitutivo é o técnico, emerge quando seu uso se estende para a ação humana.

Para Contreras, esses professores que entendem seu trabalho como exercício técnico tendem a resistir às análises que ultrapassam a maneira como o compreendem, o que, de certa forma, evidencia o conflito social entre os fins do ensino e as consequências sociais da dinâmica da sala de aula.

Ao considerar que a atuação do profissional não se limita à aplicação de técnicas, mas que se abre aos efeitos por ela desencadeados, o modelo Professor Reflexivo, proposto por Schön, considera que a prática profissional integra necessariamente as consequências sociais que provoca, propõe também, em particular, a valorização da experiência e da reflexão, enfatizando não somente a formação inicial (que também não deixa de ser experiência), mas reforçando

[ … ] o valor da prática profissional como momento de construção do conhecimento, através da reflexão, análise e problematização desta e o reconhecimento do conhecimento tácito, implícito, presente nas soluções que os profissionais encontram na ação [. .. ].4

Para Schön5, a formação é, na verdade, auto formação, uma vez que os professores reelaboram os saberes iniciais em confronto com suas experiências práticas, cotidianamente vivenciadas nos contextos escolares. É nesse confronto e num processo coletivo de troca de experiências e práticas que os professores constituem seus saberes como prática, ou seja, constantemente refletem na e sobre a prática.

É um saber-fazer sólido, teórico e prático, inteligente e criativo que permite ao profissional agir em contextos instáveis, indeterminados e complexos, caracterizados por zonas de indefinição que de cada situação fazem uma novidade a exigir uma reflexão e uma atenção dialogante com a própria realidade que lhe fala. A formação de um profissional dotado de tal competência deve, portanto, comportar situações onde o formando possa praticar sob a orientação de um profissional [ … ]. Esta componente de formação profissional prática em situação oficinal, real ou simulada, é concebida como uma espécie de prisma rotativo que possibilita ao formando uma visão caleidoscópica do mundo do trabalho e dos seus problemas e, permitindo uma reflexão dialogante sobre o observado e o vivido, conduz à construção ativa do conhecimento na ação segundo uma metodologia de aprender a fazer fazendo.1

O conceito de professor como prático reflexivo reconhece a riqueza da experiência que reside na prática dos bons professores, os quais criticam e desenvolvem suas teorias e práticas à medida que refletem – sozinhos e em conjunto na ação e sobre ela -, acerca do seu ensino e das condições sociais que modelam as suas experiências de ensino. Reconhecer que o processo de compreensão e melhoria do seu ensino deve começar pela reflexão sobre a sua própria experiência, além do reconhecimento de que o processo de aprender a ensinar prolonga-se durante toda a carreira do professor.

Portanto, esse movimento internacional, que se desenvolveu no ensino e na formação de professores sob a bandeira da reflexão, implica o reconhecimento de que os professores são profissionais que devem desempenhar um papel ativo na formulação, tanto dos propósitos e objetivos do seu trabalho como dos meios para atingi-los (ator social e não apenas técnico).

Isto é, o reconhecimento de que o ensino precisa voltar às mãos dos professores, pois os que não refletem sobre o seu ensino aceitam naturalmente a realidade quotidiana das suas escolas e não concentram seus esforços na procura dos meios mais eficazes e eficientes para atingirem os seus objetivos e encontrarem soluções para problemas que outros definiram no seu lugar.

Professor Reflexivo X Professor Intelectual Crítico

 

Professor Reflexivo x Intelectual

 

A diferença fundamental entre o segundo e o terceiro modelo está na reflexão. O modelo Intelectual Crítico não se refere apenas ao tipo de meditação que possa ser feita pelos docentes sobre suas práticas e as incertezas que estas Ihes provoquem, mas supõe também “uma forma de crítica” que Ihes permitiria analisar e questionar as estruturas institucionais em que trabalham. Sob esta base de crítica da estrutura institucional, dos limites que está impõe à prática, a reflexão amplia seu alcance, incluindo os efeitos que estas estruturas exercem sobre a forma pela qual os professores analisam e pensam a própria prática, bem como o sentido social e político aos quais obedecem.

Foi Giroux quem melhor desenvolveu essa idéia dos professores intelectuais críticos. Conceber o trabalho dos professores como trabalho intelectual quer dizer, pois, desenvolver um conhecimento sobre o ensino que reconheça e questione sua natureza socialmente construída e o modo como se relaciona com a ordem social, e ainda analisar as possibilidades transformadoras implícitas no contexto social das aulas e do ensino.

A definição do professor como intelectual transformador permite expressar sua tarefa nos termos do compromisso com um conteúdo muito definido: elaborar tanto a crítica das condições de seu trabalho como uma linguagem de possibilidade que se abra à construção de uma sociedade mais democrática e mais justa, educando seu alunado como cidadãos críticos, ativos e comprometidos na construção de uma vida individual e pública digna de ser vivida, guiados pelos princípios de solidariedade e de esperança.

Através da visão de Contreras sobre o papel dos professores e a forma de entender sua função no âmbito da escola e da sociedade, pode-se destacar os entraves a serem superados pelos docentes na busca da compreensão do sentido de sua missão numa perspectiva sob a qual realiza seu papel.

Segundo Giroux, os docentes necessitam definir a si mesmos como intelectuais transformadores, que atuam como categoria, definir o papel pedagógico e político que eles têm na escola; ao passo que a noção de educação radical refere-se a uma esfera mais ampla de intervenção na qual o próprio interesse pela autoridade, pelo conhecimento, pelo poder e pela democracia redefine e amplia a natureza política de sua tarefa pedagógica, que é ensinar, aprender, ouvir e mobilizar na busca de uma ordem social mais justa e igualitária.

A reflexão Intelectual Crítica não deve ser entendida como um processo de pensamento sem orientação. Pelo contrário, Contreras assinala que ela tem um propósito muito claro de “definir-se” diante dos problemas e atuar, consequentemente, considerando-os como situações que estão além das próprias intenções e atuações pessoais, para incluir sua análise como problemas que têm uma origem social e histórica.

Refletir criticamente significa colocar-se no contexto de uma ação, na história da situação, participar de uma atividade social e ter uma determinada postura diante dos problemas. Significa explorar a natureza social e histórica, tanto de nossa relação como atores nas práticas institucionalizadas da educação, quanto da relação entre nosso pensamento e ação educativos.

Já que tal modo de atuar tem consequências públicas, a reflexão intelectual crítica leva à concepção de uma atividade também pública, exigindo, a organização das pessoas envolvidas e dirigindo-se à elaboração de processos sistemáticos de crítica, os quais dariam permissão à reformulação de sua teoria e prática social e de suas condições de trabalho.

Contreras considera, ainda, que não se trata, portanto, de simplesmente aceitar a prática reflexiva, e sim de analisar qual o tipo de vinculação com a ação que pretende estabelecer, sob que relações sociais realizá-Ia, a que interesses servir e que construção social apoiar com ela. A crítica que se dirigiu precisamente à reflexão concebida em termos da racionalidade prática apoia-se no fato de que essa perspectiva não reconhece os contextos e supostos que atuam implicitamente, em muitas ocasiões de modo inconsciente, em qualquer processo reflexivo.

Por todo exposto, pode-se dizer que a reflexão intelectual crítica visa analisar as condições sociais e históricas nas quais se formaram os modos de entender e valorizar a prática educativa, problematizando, assim, o caráter político da prática reflexiva. Dessa forma, motivados pela ideia da prática reflexiva, conduziu-se esse trabalho a fim de que possam repensar os processos de formação e de construção social que levaram a sociedade a sustentar determinadas ideias, quanto estudar as contradições e as estruturas sociais e institucionais que condicionam a prática educativa.

Professor Reflexivo

fonte: http://www.jrmcoaching.com.br

Agora é com você. Tenho certeza que tem algum comentário sobre esses dois tipos de professores.

E mais do que isso, se tiver alguma dúvida sobre esse assunto é só nos enviar, que responderemos na primeira oportunidade.

Referências:
1- ALARCÃO, Isabel. Formação Reflexiva de Professores: Estratégias de Supervisão. Porto: Porto, 1996.
2- BARBOSA, Germana Castro. Formação e prática docente entre a técnica, reflexão e criticidade. Fortaleza: CED I UECE, 2007.
3- CONTRERAS, José. A Autonomia de professores. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2012.
4- PIMENTA, Selma Garrido; GHEDIN, Evandro. Professor Reflexivo no Brasil: gênese e crítica de um conceito. São Paulo: Cortez, 2002.
5- SCHON, Donald A. La formación de profissionales reflexivos. Barcelona: Paidós, 1992.

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Comentários
  • Maria nascimento 21 ago 2019

    Gostaria de saber como o professor deve abordar os materiais históricos dentro da sala de aula? Criticamente falando

  • Maxi Educa 23 ago 2019

    Olá Maria, Creiamos que deve abordar como sempre está habituada falar sobre os conteúdos. Sabemos que nos dias atuais vivemos em momentos de exacerbação das ações que sempre foram feitas normalmente pelos professores, então só nos cabe ter um pouco mais de zelo. E em alguns momentos, creio eu, que não há problemas em colocar seu ponto de vista, deste que isso fique bem claro para os alunos como sendo teus e não utilizar isso como verdade absoluta, sendo importante ressaltar que é teu ponto de vista, como acredito que já faça. Obrigado pela leitura e acompanhe sempre nossos blog ;) Aproveite para nos acompanhar nas redes sociais: Facebook: https://goo.gl/fgnB61 Instagram: https://goo.gl/xe1LmU YouTube: https://goo.gl/REyOiW

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