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Considerações sobre a psicologia hospitalar e a terapia cognitivo-comportamental

Por Alan Martins de Souza 24 ago 2018 - 9 min de leitura

Um tema de grande expansão na psicologia é a psicologia hospitalar.O hospital é uma instituição que passou por diversas mudanças, avanços e transformações ao longo dos séculos. Historicamente, o hospital surgiu por volta do século IV e funcionava como uma espécie de depósito, onde se alocavam os enfermos destituídos de recursos; era uma finalidade social, não terapêutica (CAMPOS, 1995a).

Um tema de grande expansão na psicologia é a psicologia hospitalar. O hospital é uma instituição que passou por diversas mudanças, avanços e transformações ao longo dos séculos.

http://www.valordoconhecimento.com.br/blog/como-o-psicologo-pode-atuar-no-ambiente-hospitalar/

Assim como a história dos tratamentos destinados aos deficientes, o hospital foi por muito tempo uma instituição geradora de segregação. Os indivíduos eram isolados da sociedade, fato que ocorria por diversos fatores, tais como: medo, preconceito, falta de conhecimento, outras crenças e uma forte visão higienista (AMIRALIAN, 1986). Porém, esse tipo de tratamento para com os deficientes é prejudicial e só aumenta a segregação; era o mesmo o que acontecia com os demais doentes nos primeiros hospitais.

Por muito tempo, a instituição hospitalar esteve ligada à religião, sob influência direta do Cristianismo. Tratava-se de um espírito egoístico, o interesse não era o de restaurar a saúde dos enfermos, mas sim o de buscar a salvação divina, trabalhos de caridade. Segundo Campos (1995a), eram tratamentos limitados, pois o conhecimento científico da época ainda se mostrava escasso.

No século XI, surge a necessidade de uma especialização no tratamento de algumas doenças, como a lepra-hanseníase, com o primeiro hospital especializado, o Hospital St. Bartholomew, sendo criado na Inglaterra (CAMPOS, 1995a). O foco, que antes estava no indivíduo, passa, a partir daqui, a ser na doença e no entendimento dela.

Durante a Idade Média, os hospitais funcionavam como uma combinação de hospedaria e asilo, instituição de abrigo e de tratamento de doentes; não havia uma definição precisa, exata (ORNELLAS, 1998).

A partir do século XVIII, as ciências passaram a evoluir de maneira muito rápida, pois a Igreja já não possuía o mesmo poder de controle social de antes. Diversos campos do conhecimento se desenvolveram, principalmente a medicina. Além dos avanços tecnológicos, a disciplina militar foi adotada pelos hospitais, tornando-se uma das características principais desse tipo de instituição (TORRES, 1982).

Os hospitais ganharam, até mesmo, modelos estruturais adequados e específicos, que evoluíram com o desenvolvimento da arquitetura e a descoberta de novos materiais de construção. Avanços como esse, assim como os avanços científicos e as melhores condições de higiene, chamaram a atenção da classe alta das sociedades, que passou a investir nessas instituições, passando a utilizar seus serviços — serviços que, antes, somente os mais pobres utilizavam, já que os ricos recebiam tratamento em suas residências (HOSPITALAR, 1965).

A PSICOLOGIA HOSPITALAR

 

https://saludiario.com/imss-inicia-2017-con-licitaciones-para-construir-hospitales/

Avanços na área das ciências sociais possibilitaram um melhor entendimento do processo saúde-doença e a formulação de estratégias mais efetivas para a intervenção junto à demanda da população por melhores condições de vida, pensamento oposto ao naturalismo do saber médico hegemônico (MELO; BRANT, 2005).

Esse novo cenário foi propício para a inserção do psicólogo nos hospitais, pois não bastava apenas um olhar para a doença, mas sim compreender o indivíduo em sua totalidade, principalmente dentro da instituição hospitalar, que é, por si, geradora de fortes angústias.

Passou-se a notar que o paciente não queria ser somente visto e examinado, mas também ser ouvido e compreendido; uma internação gera muitas dúvidas, há o desejo de elucidá-las. Ademais, como indica Campos (1995b), o atendimento psicológico aumenta a colaboração do paciente com o seu tratamento e com os funcionários do hospital.

De acordo com Campos (1995b), o papel do psicólogo hospitalar deve abranger a assistência psicológica a pacientes e seus familiares, a produção de conhecimentos psicológicos na área através de sua experiência e, também, trabalhar em equipe, oferecendo suporte aos demais funcionários. Essa mesma autora afirma que o psicólogo precisa visar o alívio do sofrimento do paciente, propiciando o falar de si, da doença, da família, de seus medos, pensamentos, esclarecendo suas dúvidas; com o foco sempre naquilo que acontece dentro da instituição, durante a internação.

Segundo Alves (2017), existem algumas características do psicólogo que podem facilitar a aplicação da terapia: a aceitação (sincera demonstração de interesse pelo cliente), a empatia (se colocar no lugar do outro, tentar adentrar seus sentimentos) e a autenticidade (ser honesto consigo e com o outro). É de extrema importância que essa relação seja empática, genuína, e que tenhamos cuidado com os sentimentos de pena/dó.

TERAPIA COGNITIVO-COMPORTAMENTAL

https://www.altoastral.com.br/voce-conhece-terapia-cognitivo-comportamental/

Uma das abordagens mais utilizadas em hospitais é a Terapia Cognitiva-Comportamental (TCC). Essa teoria foi desenvolvida no início da década de 1960, por Aaron T. Beck. Trata-se de uma psicoterapia, estruturada, orientada ao presente, direcionada a resolver problemas atuais e a modificar os pensamentos e os comportamentos disfuncionais (MAZUTTI; KITAYAMA, 2008).

Para a TCC, os transtornos psicológicos são resultados de um modo distorcido ou disfuncional de perceber os acontecimentos, que acabam por influenciar o afeto e o comportamento. No entanto, vale ressaltar que isso não quer dizer que as causas dos problemas emocionais são os pensamentos, mas sim que os pensamentos modulam e mantêm as emoções disfuncionais, não dependendo de suas origens (PEREIRA; PENIDO, 2010)

A teoria cognitivo-comportamental possui dez axiomas formais (formulação em contínuo desenvolvimento do paciente e de seus problemas em termos cognitivos; uma aliança terapêutica segura; ênfase numa colaboração e participação ativa do cliente; orientação em meta e foco em problemas; ênfase no presente; educar o cliente; visar ter um tempo limitado; sessões estruturadas; ensinar os clientes a identificar, avaliar e responder a seus pensamentos e crenças disfuncionais; uso de técnicas para mudar pensamento, humor e comportamento), que servem de ponto de apoio. O funcionamento psicológico bem como a adaptação psicológica a determinado contexto estão na dependência de “estruturas de cognição com significado”, esses significados possuem a função de controlar vários sistemas psicológicos, como o comportamental, o emocional, a atenção e a memória. O indivíduo constrói significados, podendo construir significados corretos ou incorretos em relação a um contexto ou objeto. Os axiomas não são vistos como estáticos, eles podem evoluir com o surgimento de novas evidências (BAHLS; NAVOLAR, 2004).

Uma internação gera um afastamento da família, da rotina, do trabalho e de toda vida pessoal. O hospital é um ambiente estranho, regrado, onde o paciente fica à mercê de cuidados, além de ser uma situação que pode estresse e pensamentos distorcidos. Ou seja, uma internação hospitalar é capaz de gerar crises, que, na perspectiva da TC, surgem quando o estresse e a tensão atingem grandes proporções, podendo atrapalhar a capacidade do indivíduo de enfrentar e solucionar problemas (MAZUTTI; KITAYAMA, 2008).

Atuando em um hospital, o psicólogo cognitivo-comportamental deve se atentar a fatores cognitivos (crenças, atitudes e suposições irrealistas), fatores comportamentais (falta de estratégia de enfrentamento, falta de apoio social, incapacidade de pedir ajuda) e fatores físicos (MAZUTTI; KITAYAMA, 2008).

Mazutti e Kitayama (2008) apresentam algumas técnicas que o psicólogo pode utilizar em sua atuação hospitalar. O momento de internação deixa o paciente fragilizado, por isso é importante a criação de uma aliança entre psicólogo e paciente. Ao buscar por recursos internos adaptativos do paciente, para enfrentamento da situação de doença, o profissional irá enfatizar a força do paciente. Também é importante trabalhar de forma realista, ainda mais quando já existe um prognóstico médico; tentar negá-lo só causará mais estresse.

O trabalho em contexto hospitalar prima por um trabalho objetivo, diretivo, com foco no aqui-agora e pautado na utilização de técnicas cientificamente comprovadas. Certas técnicas cognitivo-comportamentais utilizadas na atuação clínica podem ser aplicadas em um hospital, como o exercício de formulação de casos, dessensibilização sistemática, relaxamento muscular, respiração diafragmática, distração cognitiva e treinamento em habilidades sociais (PEREIRA; PENIDO, 2010).

Técnicas de relaxamento podem ser empregadas em pacientes, acompanhantes e funcionários do hospital, como, por exemplo, a técnica da respiração diafragmática. Segundo D’el Rey e Pacini (2006), as técnicas de relaxamento ajudam o paciente a controlar sintomas fisiológicos, facilitando o controle das emoções.

Pode-se aplicar as técnicas cognitivas e/ou comportamentais visando a compreensão e o manejo de problemas de saúde. No ambiente hospitalar é possível utilizá-las nas salas de espera, em grupoterapia, em atendimentos individuais e de familiares, e em pacientes hospitalizados ou ambulatoriais. Peron e Sartes (2015) afirmam que existem diversos estudos demonstrando que as técnicas têm um papel muito importante na redução dos sintomas apresentados pelos pacientes, e proporcionam maior capacidade de enfrentamento da doença e da hospitalização.

O psicólogo é imprescindível para o trabalho de humanização hospitalar, trabalho este que visa garantir à palavra a sua dignidade ética. Para humanizar, é preciso, antes, ouvir, e um psicólogo possui todo aparato técnico e teórico para oferecer uma escuta de qualidade, tanto de pacientes, quanto de funcionários, atuando na troca de saberes, no trabalho em equipe, transformando os sujeitos em seres ativos (MOTA; MARTINS; VERAS, 2006).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALVES, D. L. O vínculo terapêutico nas terapias cognitivas. Rev. bras. psicoter., 19-1, p. 55-71. 2017.
AMIRALIAN, M. L. T. M. A excepcionalidade como um fenômeno social. In: ______. Psicologia do excepcional. São Paulo: EPU, 1986. p. 37-43.
BAHLS, S. C.; NAVOLAR, A. B. B. Terapia cognitivo-comportamentais: conceitos e pressupostos teóricos. Psico UTP, 4, p.1-11, jul. 2004.
CAMPOS, Terezinha Calil Padis. O hospital: sua história, funções, imagem e significado institucional. In: ______. Psicologia hospitalar: a atuação do psicólogo em hospitais. São Paulo: EPU, 1995a. p. 15-22.
CAMPOS, Terezinha Calil Padis. O psicólogo em hospitais. In: ______. Psicologia hospitalar: a atuação do psicólogo em hospitais. São Paulo: EPU, 1995b. p. 11-14.
D’EL REY, G. J. F.; PACINI, C. A. Terapia cognitivo-comportamental da fobia social: modelos e técnicas. Psicol. estud., 11-2, p. 269-275, mai/ago. 2006.
HOSPITALAR, Departamento Nacional de Saúde Divisão de Organização. A evolução dos hospitais. In: ______. História e evolução dos hospitais. Brasília: Ministério da Saúde, 1965. p. 47-54.
MAZUTTI, S. R. G.; KITAYAMA, M. M. G. Psicologia hospitalar: um enfoque em terapia cognitiva. Rev. SBPH, 11-2, p. 111-125, dez. 2008.
MELO, M. B. de; BRANT, L. C. Ato médico: perda da autoridade, poder e resistência. Psicol. cienc. prof., 25-1, p. 14-29, mar. 2005.
MOTA, R. A.; MARTINS, C. G. de M.; VERAS, R. M. Papel dos profissionais de saúde na política de humanização hospitalar. Psicol. estud., 11- 2, p. 323-330, ago. 2006.
PEREIRA, F. M.; PENIDO, M. A. Aplicabilidade teórico-prática da terapia cognitivo comportamental na psicologia hospitalar. Rev. bras. ter. cogn., 6-2, p.189-220, jul/dez. 2010.
PERON, N. B.; SARTES, L. M. A. Terapia cognitivo-comportamental no hospital geral: revisão da literatura brasileira. Rev. bras. ter. cogn., 11-1, p. 42-49, jun. 2015.
TORRES, W. C. Hospital: desafios rumo ao próximo milênio. Psicologia Argumento. 1-1, 1982.
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