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Turbante para todos – por William Douglas | juiz federal

Por William Douglas 17 jun 2017 - 4 min de leitura

William Douglas, juiz federal (RJ), professor e escritor

Recentemente, critiquei quem negou a uma jovem branca o direito de usar turbante. Sustentei que o mesmo não é propriedade de nenhuma cultura ou país em especial e que ninguém tem o direito de impedir outra pessoa de usar a roupa que deseja. Pois este artigo é sobre o mesmo assunto: ninguém tem o direito de impedir outra pessoa de usar a roupa que deseja.
   
O turbante na branca não deveria ser visto como algo ruim, mas como parte de um processo de evolução da sociedade, no qual a beleza do turbante e a generalização de seu uso, além de ser mero exercício de direito de cada um, também torna cada vez mais comum (e menos sujeito a ataques) o seu uso. Hoje estou aqui para falar do turbante na mulher negra.
   
O turbante pode ser utilizado apenas como adereço, ou também com o simbolismo que um ou outro grupo empreste ao mesmo: cultural, religioso, ativista, o que for. Eu, por exemplo, utilizo o anel de tucum por motivos filosóficos, mas sei de quem utiliza o anel preto apenas por gostar da cor. Cada um com suas escolhas, todas devendo ser respeitadas.
 
 Então, dentro da ideia do “direito ao turbante”, registro aqui meu repúdio ao fato que narro a seguir. Obviamente, escrevo a partir de uma notícia publicada na Folha, sem ter todos os dados sobre o mesmo. O episódio está sendo apurado e espero que a verdade seja esclarecida e os fatos recebam a devida retribuição, na forma da lei.
 
  Eis a notícia: “Jovem tem turbante arrancado em festa de formatura em Minas Gerais” (disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/04/1878329-jovem-tem-turbante-arrancado-em-festa-de-formatura-em-minas-gerais.shtml>). Em resumo, narra-se que a pedagoga e ativista Dandara Tonantzin Castro teve seu turbante arrancado em uma festa de formatura, em Uberlândia/MG.
 
  Sendo o que parece, estamos diante de crime, de racismo, de intolerância, enfim, de uma série de comportamentos que já deveríamos, enquanto sociedade, ter superado. Quem tirou o turbante, quem ofendeu essa cidadã, quem jogou cerveja, quem errou, portanto, deve ser punido. E com rigor. Agressões como essas não podem passar em branco (utilizei o termo de propósito). Racismo não pode passar em branco, nem em cor nenhuma.
 
  
Ainda que alguém me acuse de machismo, me perdoem, mas aprendi com minha mãe que “homem não bate em mulher”. O certo é que não se bata em ninguém, mas diante da, em geral, superioridade física masculina, um homem bater em mulher é ainda mais reprovável do que se o fizesse em outro homem. Nem bater, nem ofender, nem assediar, nem estuprar. Em suma, não usar a força. Jeito de tratar mulher, também aprendi na Bíblia: “Às mulheres de idade como a mães, às jovens como a irmãs, com toda a pureza” (1 Timóteo 5:2).
 
  Outra coisa: se o turbante incomoda a alguém, que este alguém aprenda a lidar com isso. Eles estarão cada vez mais presentes, seja entre as pessoas que o assumem como referência cultural, seja entre os que já viram como é bonito como adereço, ou como solução para quem, por exemplo, está fazendo quimioterapia e perdeu seus cabelos. E, se for por motivo religioso, que aprendam todos que um país laico é aquele onde todas as manifestações religiosas devem ser toleradas, da umbanda ao ateísmo, passando por todos os demais segmentos. Não podemos tolerar neopentecostais (que não conhecem direito nem o cristianismo) invadindo terreiros, e nem feministas e outros ativistas vilipendiando templos ou símbolos religiosos católicos.
  
 
Enfim, este rápido artigo é para repetir os termos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, artigo 1º: Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade”, e do artigo 5º da nossa Constituição: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza.”
 
  Em outras palavras,
 
  Todas as pessoas nascem livres e com o direito de usar turbante.
   
Por fim, um registro. O grau de violência da jovem negra que importunou a moça branca é abissalmente menor que o grau de violência do covarde que arrancou o turbante da mulher negra. A jovem negra talvez mude de ideia conversando, mas o homem branco, além da conversa, e confirmados os fatos, também merece uma pena criminal veemente o suficiente. Eu, se fosse o juiz do caso, incluiria nas penas fazer este cidadão frequentar semanalmente, por pelo menos um ano, as reuniões da Educafro, onde vemos todos os dias o quanto nossa sociedade ainda é racista, elitista e insensível aos mais pobres de todas as cores, mas especialmente dura com os negros e ainda mais com as mulheres negras.
  
A todos que desejarem, meus votos de que usem o turbante sem serem atacados verbal ou fisicamente. Turbante para todos, enfim.
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